A vida é circular...

Foi andando em volta da stupa de Boudhanath todas as tardes, no Nepal, que aprendi a apreciar “ir

devagar”, a parar um pouco a busca por produtividade, e ao invés disso, andar em círculos por um tempo.

As tradições ocidentais enxergam a vida como algo linear, nascimento, crescimento ou evolução, e morte. Mas basta olhar para a natureza para perceber que não existe fim, apenas transformação atrás de transformação, um círculo de interdependência, como o Budismo apresenta.

Linhas e ângulos são bons, eu penso. Viajamos em linhas retas, ficamos em pé, escrevemos em linhas, e parece que a reta mostra uma escala mais evolutiva, como começar de um ponto e ir a outro. O círculo, por outro lado, nos faz sentir que não “saímos do mesmo lugar”.

Boudhanath, ou literalmente, o “lugar de Buda”, é um bairro da cidade de Kathmandu, e podemos chamar também de um grande coração tibetano, já que é lá que milhares de refugiados tibetanos moram. Em torno de um grande monumento branco que simboliza a mente de Budha, milhares de pessoas literalmente andam em círculo. A qualquer hora do dia, andam segurando seus japamalas (um colar de contas) cantando mantras e girando rodas de orações (quanto círculo!).

Estou estudando com o Gueshe Denyo já fazem alguns anos, começamos pelo Yoga tibetano, e agora semanalmente nos encontramos online para estudar a Roda do Samsara. É verdade que os budistas adoram coisas redondas: a mandala, ou representação circular do universo, a roda de oração, o japamala, a estupa.

Um elemento central nessa filosofia é o Samsara, um círculo de renascimento quase sem fim em que vivemos, e que pode ser parado quando se atinge a iluminação. Encontramos “o círculo” também no Sufismo, por exemplo quando os dervishes estão rodando num estado muito meditativo.

Enxergar essa perspectiva de vida me traz muito conforto. Não precisamos identificar como bom ou ruim, como gostar ou não gostar, andar em círculos é um fato. O fato de eu voltar a cada ano por alguns meses no Nepal é circular, eu apenas revisito um lugar que me ensina uma geometria sagrada.