Nunca escrevi sobre o Amor.
- Marina Linhares
- 15 de jan.
- 2 min de leitura
Estava na farmácia do monastério cuidando de um monginho, quando percebo um rostinho novo aparecendo pelo pátio. Fecho a porta da farmácia e caminho até o sol para me esquentar, assisto de longe a cena que não é mais inédita para mim, e para as crianças que aqui vivem.

Duas mulheres e um homem chegam com algumas crianças, conversam com o caseiro do monastério e se organizam para tirar uma foto com o menorzinho, que já começa a expressar tristeza com as lágrimas que escorrem pelo rosto ligeiramente sujo.
Um breve abraço entre uma das mulheres e o pequeno que chora, marca a despedida. Apesar de saber o final desse filme, o fato é que nunca estive preparada para as despedidas, especialmente aquelas em que se diz que o amor é supremo. Tento continuar como apenas observadora: sem apego e sem aversão. Apego ao menino, aversão a mulher que o deixa. Não consigo. Julgo dentro de mim, julgo o amor que é dito como maior do mundo, aquele chamado “amor de mãe”, e me recordo das tantas vezes em que escuto esse tipo de fala, quantas classificações, quantas separações para o que nem em palavras podemos explicar. O amor É.
A mulher caminha em passos apressados na direção do portão, o menino fica parado, imóvel, olhando-a. As lágrimas escorrem, não grita, não corre, mantém seu olhar longe acompanhando a ida dela, que não olha para trás até alcançar a última esquina em que será possível vê-lo, então se vira, acena com a mão e sorri. O homem que a acompanha nem parece compreender o que está acontecendo, apenas assente com a situação. Todos se vão.
O olhar do menino continua ali, parado, perdido no horizonte, fixo e vazio, como se o tempo houvesse parado. Esperava, em silêncio a volta dela, sem promessa de retorno. Naquele instante, o céu parecia saber o que o coração já sabia: ela não voltaria.
Assisti a tudo como observadora que me propus ser. Julguei. As lágrimas escorreram pelo meu rosto também. O tempo parou para ele e para mim, que nada pude fazer. Fiquei ali, aberta e vazia, tentando segurar o inevitável. Impotente, sem poder mudar o curso do destino.
Nunca me arrisquei a escrever sobre o amor porque duvido que as palavras podem alcançar esse sentir, que para mim, tem muito mais a ver com o AGIR. Digamos que essa mulher tenha dito a esse menino que o amava usando as palavras mais lindas que alguém pode encontrar em seu vocabulário. O seu agir com certeza falou mais alto, e talvez nesse momento em que virou as costas para ir embora, o menino não tenha se lembrado dessas palavras.
O amor é um convite a estar disposta. Pede movimento, pede serviço, no sentido de servir, pede redenção, ao mesmo tempo que não pede nada. Amor é cuidado mútuo, crescimento profundo, demanda um compromisso constante, é pulsante.
Logo depois que ela se vai, um dos monginhos chega perto do menino, que ainda está parado no lugar em que foi deixado, e pega sua mão, o convidando a entrar na sala para assistirem televisão.
É muito triste, mas não sabemos quais os motivos para deixarem ele aí, tantas possibilidades, a pobreza ou de estar fazendo o melhor pra ele, para que no futuro se torne um monge e se tornar um Monge é um orgulho para família. 🙏